De volta ao meu canto, depois de um ano sem postar.
É uma pausa considerável, e que me ajuda a ver com clareza o que fiz nesse tempo. Vamos lá:
Segui afinando a voz nas crônicas do Globo, e ando feliz com o resultado. A crônica mexe com um outro músculo da escrita, tem algo de espontâneo e íntimo que aprendi fazendo e estou levando para a ficção. Também no Globo eu publiquei um ensaio no caderno especial sobre o Sul, escrito com a autoridade de quem namorou quatro anos um erexinense. Troquei o namoro por um longo e estável relacionamento com o estado. Eu amo o Sul. Sempre que vou me imagino morando num apartamento em POA, numa casinha num canto de Pelotas. Para os leitores que não assinam O Globo: pretendo compartilhar num próximo post algumas crônicas.
Fui à Coreia para um encontro de escritores e publiquei o diário desse viagem na Piauí, com o instigante título (deles) “Budismo, Botox e Besame Mucho”
Comecei uma troca de cartas com o Caetano Galindo, pública durante um tempo no Opiniães e agora privada. Ela segue constante e sincera para futura publicação. Esse investimento a princípio intuitivo numa amizade tardia tem sido enriquecedor. É não é algo que todo mundo deveria fazer? Ter a iniciativa infantil de perguntar : quer ser meu amigo? Geralmente a vida não deixa, e tudo se tranforma num grande a gente se fala.
Nesse período também saiu pela editora Antofágica a edição de Pais e Filhos, de Turgenev, com um ensaio assinado por mim. Os russos me fascinam, pelo entendimento da condição humana e pelas semelhanças com a nossa cultura. Ainda não vi o exemplar porque foi enviado para a casa dos meus pais no Rio. Pelas fotos está primoroso, como aliás tudo o que é feito pela Antofágica.
A pedido do grande cronista Eduardo Affonso fiz o prefácio do livro “Nuvens de Palavras”. É uma coletânea de crônicas escritas pelos alunos do curso que ele administra. O livro está para sair, com lançamento no Rio e em São Paulo.
E meu maior projeto, a escrita e edição de “Liz sem Medo”, romance infanto-juvenil com ilustrações incríveis da Joana Penna, minha amiga e vizinha aqui em Los Angeles. O livro sai pelo selo Escarlate, de infanto juvenis da Cia das Letras. Estaremos no Brasil em setembro para lançar Liz no Rio e em Sao Paulo, em livrarias e na Bienal. Aviso quando souber de lugares e datas.
Parece que estou no caminho certo. Postando pouco nas redes. Lendo muito. Escrevendo sempre. Um pé na crônica, outro no romance, um breve desvio para um infanto juvenil. Trocando boas cartas com um bom amigo.
Farei um outro post para falar do processo de escrita da Liz. Eu adorei escrever, e foi um percurso arriscado e de boas descobertas. Nesse posto quero só refletir sobre o ano.
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Sigo meditando. Não é fácil manter a rotina e mudar a cabeça, mas eu quero muito. Autoconhecimento. Falar menos, ouvir mais. Ter mais empatia, conexão, compaixão, presença, prazeres simples, contentamento.
Fiz um curso de Budismo da linha Nyingma, ministrado por um pessoal lá de Berkley, e depois disso, de livro em livro, de meditação em meditação pelo youtube, cruzei com o Thích Nhất Hạnh (é claro que eu acabei de dar um copy paste do nome pelo wikipedia. Os livros dele são incrivelmente simples e no ponto. E aqui estou, cinquentona, aprendendo.
Fiz duas aquisições: botas para caminhadas nos morros da área, e um wet suit.
Vivo perto de uma cadeia de montanhas, conhecida como Santa Monica Mountains. Não são luxuriantes como as da minha Floresta da Tijuca, mas lindas a seu modo, com vegetação rasteira, cobras cascaveis, leões de montanha, coelhinhos e tarântulas, a vista esporádica para o Pacífico e água doce sazonal. No verão os riachos secam, no inverno reaparecem. Passo por eles e faço uma prece para Oxum.
Comecei a pegar onda, graças ao wet suit. Não me imaginem sobre uma prancha de surf na crista de uma onda em Malibu. Eu pego marola e de morey boogie. Eu descobri depois de todo mundo que surfista não sente frio. Com o wet suit dá para entrar na água e ficar de boa. Para colocar é um martírio, parece que a gente tirou a pele e agora ela se recusa a voltar porque ressentiu. Para tirar é outro sufoco, ali estou no estacionamento da praia, pulando e sofrendo, livrando-se do terno preto como como quem briga com um alien que me tomou. Mas eu boto, pego lá minhas marolas, tiro, e me sinto plena e da galera.
O que mais eu fiz? Um cachecol azul. Sem erros, minha gente. O primeiro de categoria, em anos de tricô sazonal.
E é claro, eu faço a minha família todos os dias.
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Ainda estou moldando esse espaço. Acho que é um canto para textos mais longos. Uma esquina da internet, mais pessoal que um website. Um lugar só meu, para eu voltar de quando em vez e prestar contas, também para mim, do que fiz.
Tá vivendo direitinho, Martha Batalha? Pois muito bem. Aproveite enquanto dure.
Que volta deliciosa!
Esses dias, lembrei de ti e do Caetano, acredita?! Que maravilha ler essa edição de retorno !
Seja bem-vinda de volta!
Até!